Justiça barra shows milionários após decreto de calamidade financeira em cidade do Piauí
Caso a ordem não seja cumprida, o casal poderá ser multado em R$ 50 mil por dia, cada um.

A Justiça do Piauí suspendeu nesta quarta-feira (7) os contratos de shows artísticos firmados pela Prefeitura de Cocal para o “Festejo do Povo”, evento previsto para este mês. A decisão ocorre após o Ministério Público denunciar o gasto de R$ 1,8 milhão com atrações musicais, apesar de o município ter declarado estado de calamidade financeira no início do ano.
Entre os artistas contratados estavam nomes de renome nacional, como Alok, Natanzinho Lima, Hungria Hip Hop e Anjos de Resgate.
Gastos incompatíveis com a realidade fiscal
O Ministério Público argumenta que os contratos para os shows contrastam com a realidade financeira da cidade, que enfrenta sérias dificuldades na manutenção de serviços essenciais como saúde, abastecimento de água e pagamento de servidores. Segundo relatório da própria Secretaria de Finanças de Cocal, divulgado em março, mais de 85% da receita líquida municipal já está comprometida com despesas fixas.
Mesmo assim, os recursos utilizados para os shows vieram de uma fonte orçamentária de uso livre o chamado “código 500” sem comprovação de patrocínio externo.
Promoção pessoal e uso da imagem pública
Além da suspensão dos eventos, o juiz determinou que a Prefeitura retire, no prazo de 24 horas, os outdoors com imagens do prefeito e de sua esposa, Lívia Janaina Monção Leodido Britto, associados ao festejo. Para o magistrado, mesmo que os materiais tenham sido financiados com recursos próprios, o uso da imagem configura promoção pessoal indevida por meio de um evento bancado com verbas públicas.
Caso a ordem não seja cumprida, o casal poderá ser multado em R$ 50 mil por dia, cada um.
Prefeitura alega apoio estadual, mas não comprova
A defesa do prefeito afirmou que os shows teriam patrocínio do Governo do Estado e de empresas privadas, e que o evento contribuiria para movimentar a economia local. No entanto, a Justiça observou que não foram apresentadas provas dessas parcerias e que os contratos estão em nome da própria Prefeitura de Cocal.
Decisão com efeito imediato
A Justiça ainda proibiu expressamente a celebração de novos contratos com artistas para qualquer evento semelhante até nova deliberação judicial. A decisão, no entanto, não impede apresentações patrocinadas diretamente pelo Governo do Estado ou por empresas privadas, desde que devidamente comprovadas.